Por Danilo Mekari, Analista de Comunicação do ICLEI América do Sul.
Ao longo de rodovias que margeiam áreas verdes, um tipo de acidente é muito comum: aquele que envolve veículos e animais. Segundo o Atropelômetro, instrumento de medição criado pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas, a cada ano aproximadamente 475 milhões de animais são atropelados nas estradas do Brasil.
Uma das maiores zonas urbanas do país, a Região Metropolitana de Campinas (RMC) implementará, até o final de 2020, três passagens aéreas de fauna arborícola (animais cuja vida acontece primordialmente nas árvores) para proteger a vida silvestre e impulsionar a provisão de serviços ecossistêmicos na região, garantindo o fluxo gênico entre fragmentos de áreas verdes de importância ecológica presentes da Área de Conectividade da RMC. As passagens serão localizadas em rodovias movimentadas, em pontos estratégicos e de alta incidência de atropelamentos na região.
A Área de Conectividade é uma proposta do Programa RECONECTA-RMC, da Secretaria do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (SVDS) de Campinas, realizada com apoio do projeto INTERACT-Bio, do ICLEI América do Sul, e desde 2018 tem a missão de integrar as áreas verdes presentes em diferentes pontos da RMC.
A proposta integra o Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) da RMC como uma Área Estratégica para Ação Metropolitana. O PDUI é um instrumento de planejamento que consta no Estatuto da Metrópole, um dos marcos nacionais de ancoragem do INTERACT-Bio, além da EPANB (Estratégia e Plano de Ação Nacionais para a Biodiversidade.
Contexto global
O INTERACT-Bio apoia as regiões metropolitanas a compreenderem o potencial da natureza em relação ao fornecimento de serviços essenciais para as cidades, além de auxiliar na conservação da biodiversidade e dos ecossistemas. Implementado no Brasil, Índia e Tanzânia, o projeto é financiado pelo Ministério Federal Alemão do Meio Ambiente, Conservação da Natureza e Segurança Nuclear (BMU), por meio da Iniciativa Internacional do Clima (IKI). No Brasil, três regiões metropolitanas participam da iniciativa: Campinas, Belo Horizonte e Londrina.
As ações do projeto estão alinhadas com diversos marcos globais pela sustentabilidade, entre eles: as Metas de Aichi pela Diversidade Biológica, através da integração da biodiversidade em estratégias nacionais e locais de desenvolvimento e da restauração e preservação de ecossistemas provedores de serviços essenciais; os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, apoiando a ação contra a mudança global do clima e a preservação da vida terrestre e aquática; e a Nova Agenda Urbana, com o incentivo à criação de um sistema de governança metropolitana e a defesa de áreas verdes como um fator essencial para a qualidade de vida.
Integração
Um dos principais fatores que levam à perda da biodiversidade é a fragmentação das áreas verdes. A Área de Conectividade, portanto, cumpre papel essencial para a preservação da fauna e flora locais.
Além de incentivar a conexão entre as áreas verdes urbanas, o projeto propõe estratégias e planos de ação locais para a biodiversidade de maneira coordenada e integrada com instrumentos de planejamento territorial, fortalecendo mecanismos setoriais a partir da articulação entre as secretarias municipais e outros atores estratégicos.
“Quando pensamos em planejamento territorial, não podemos focar apenas dentro de nossos limites. É necessário planejar de forma integrada e coletiva, principalmente quando a abordagem é ambiental. E quando esse diálogo se inicia, mesmo considerando as diferentes realidades entre as cidades em relação aos recursos administrativos e financeiros, vemos que os desafios são semelhantes e as metas de conservação e recuperação são as mesmas”, observa Ângela Cruz Guirao, diretora na SVDS de Campinas.