Por Mirella De Paola Padovani e Dra. Denise Helena Lombardo Ferreira.

O termo “Sustentabilidade” já é bem conhecido e não faltam materiais ou estudos acerca do tema. Por esse motivo, para que qualquer grande empresa possa se destacar ou mesmo sobreviver ao competitivo mercado atual, é de extrema importância que ela possua responsabilidade não só econômica, mas também ambiental e social.

No Brasil, muitas normas, regulamentações e leis vêm sendo redigidas e reavaliadas de forma a obrigar as empresas a reduzirem suas pegadas ecológicas como emissões de carbono, consumo dos recursos hídricos bem como implementar políticas de educação ambiental, por exemplo o incentivo a reciclagem. Apesar dos avanços desse tema e das políticas impostas em ritmos acelerados, muitas empresas já adaptaram seus processos, pois perceberam que há espaço para ganhos maiores com alternativas sustentáveis. Por exemplo, a melhoria na eficiência dos processos produtivos resulta em ganhos a longo prazo; a reciclagem de materiais reduz os gastos com insumos e o desenvolvimento de novos métodos de produção que utilizam recursos naturais diminui riscos de falência pelo esgotamento dos recursos não renováveis.

Por esse motivo, cada vez mais a sociedade, os governos, stakeholders e shareholders exigem posicionamentos acerca da preocupação com esse tema. Assim, a busca pela sustentabilidade dos negócios deixou de ser um diferencial, se tornando um pré-requisito para qualquer negócio, independentemente do setor industrial.

O SETOR DE PAPEL E CELULOSE

Nosso país possui um grande potencial agrícola que é explorado para produção de muitas commodities destinadas principalmente à exportação. No setor de papel e celulose o Brasil é o segundo maior produtor e o maior exportador do mundo, destinando 70% de toda a produção ao mercado chinês, europeu e estadunidense.

Principais produtores mundiais de celulose no ano de referência de 2019.

Fonte: IBÁ, 2020.

Quanto a produção de papel, 80% da produção é consumida no mercado interno, o que derruba o Brasil para a oitava posição no ranking dos maiores exportadores mundiais. A maior produção é destinada a produção de papéis de impressão (21,7%), tissue (3,7%) e papel cartão (2,6%). A localização da maior parte das indústrias de papel e celulose estão concentradas na região Sul e Sudeste devido ao maior consumo nessas localidades, porém há industrias espalhadas por todo território nacional.

O mercado de papel e celulose possui a maior participação – cerca de 61% em 2019 – dentro do segmento de plantio de árvores com fins industriais, constituído também pela produção de painéis de madeira e pisos laminados, produtos sólidos de madeira entre outros com menor representatividade. Apesar de pouco anunciado, este segmento possui grande importância econômica para o país. Em 2019 arrecadou R$ 86,6 bilhões, o que representa 1,3% do PIB nacional e 6,9% do PIB industrial.

Fabricação do papel

O método de produção empregado na maioria das industrias desse setor, tanto no Brasil quanto no mundo, é o processo kraft,que consiste em seis etapas principais: preparação da madeira, cozimento, lavagem, deslignificação, branqueamento e secagem.

Na preparação da madeira, ela é picada e peneirada e segue para um tanque de cozimento onde, a partir da adição do licor branco, são separadas as fibras de celulose, hemiceluloses e a lignina. Finalizada essa etapa, a mistura é lavada diversas vezes para que a celulose seja isolada dos demais no tanque de cozimento. Algumas indústrias produzem apenas a celulose, portanto, ao término dessa separação é feito o preparo para comercialização e/ou exportação.

Outras empresas realizam a produção da celulose para fabricação do papel (principalmente do tipo imprimir e escrever), sendo denominadas de fábricas integradas de papel. Nestas, após extração, a celulose é branqueada, prensada e cortada nos formatos convencionais do papel. Devido à preocupação e aos benefícios da responsabilidade ambiental citados anteriormente, uma grande parte do processo também é constituída pelo reaproveitamento e recuperação dos resíduos gerados no processo. Os cavacos e cascas separados por não atingirem os padrões necessários do processo são queimados para geração de energia a ser usada pela fábrica. Esta prática proporciona uma economia energética para a planta de aproximadamente 60%.

Além disso, há uma grande etapa de recuperação do licor branco empregado no cozimento, que será reutilizado no processo. Os resíduos, que não ainda não possuem alternativas para reaproveitamento são destinados a aterros industriais conforme regulamentação vigente. Dentre os dois setores apresentados, a produção do papel possui impactos maiores devido aos aditivos empregados na formulação do papel que lhe conferem sua aparência, textura e brilho característicos, que variam de acordo com o emprego.

Porém, percebe-se que o setor de papel e celulose é de extrema importância para a economia nacional e para o mercado mundial, além de ser um grande exemplo de como os resíduos podem ser reaproveitados no processo reduzindo impactos ambientais, utilizando recursos renováveis na geração de energia e reaproveitando os resíduos para redução dos custos da operação. Apesar dos grandes avanços em pesquisas e investimentos que tornam o setor referência para estudos em sustentabilidade, ainda há muito a se conquistar para tornar o setor completamente sustentável.

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