Luiz Fernando de Araújo Bueno

AT1- Tendências em DAD

IntroduçãO

Vivemos diante de um paradoxo geral entre economia, educação, emprego, capacitação e forma de enxergar a relação trabalho x carreira.

Valores que antigamente se diziam importantes, como trabalhar até mais tarde, horas extras, ou seja, o sentimento de ser insubstituível, têm sido vistos em grau de importância, pelas novas gerações, por alguns outros atributos que, até então, não eram valorizados como: qualidade de vida, tempo para a vida pessoal, equilíbrio entre os vários papéis que desempenhamos em nossas vidas, etc. Os mais antigos diriam que as novas gerações não possuem a mesma garra que a do passado.

Os papéis que desempenhamos, pelo menos em cinco esferas, são: vida espiritual; saúde; relacionamentos; trabalho e carreira e família.

Imaginemos que estas cinco esferas fossem um malabares.

Se todas elas não estiverem balanceadas e equilibradas, igualmente, com facilidade uma delas cairá no chão mas apenas uma cairá no chão, pingará e voltará em sua mão pois todas as outras cairão e quebrarão como um cristal. Sabe qual delas será?

Se você respondeu trabalho e carreira, acertou!

Esta esfera é a única que podemos dizer que é de borracha, pois mesmo com altos e baixos, você conseguirá, com mais ou menos dificuldade, equilibrá-la novamente no malabares da vida.

Uma das formas mais saudáveis de manter nossa esfera de borracha equilibrada e balanceada é nos aperfeiçoarmos a cada dia, através de cursos regulares de formação inicial e continuada. Atualmente, devido à era da informação, estamos vivendo momentos em que sobram informações e ha falta de tempo para administrá-las. O aperfeiçoamento em cursos profissionalizantes nos dá uma sustentabilidade maior para continuarmos guiando nossas carreiras.

Quem vive em grandes metrópoles sabe o quanto é difícil a mobilidade urbana com  grandes congestionamentos que geram  perda de tempo. Outro fator é a violência que a cada dia aumenta e nos torna inseguros e evitamos nos expõe a riscos.

É exatamente neste cenário que o ensino à distancia, ou EAD, vem preenchendo uma grande lacuna. Há muito deixou de ser sinônimo de curso barato e de qualidade duvidosa.

Por conceito, EAD significa:

“Um sistema de comunicação bidirecional, que substitui a interação pessoal entre professor e aluno pela ação sistemática conjunta de diversos recursos instrumentais e pelo apoio de um Centro Associado ou pólo que propicia todas as condições para a aprendizagem autônoma dos estudantes com a participação efetiva de tutores altamente qualificados.” Aretio (1994, p.39)

O Brasil vive um momento de crescimento e organização, nas várias metodologias existentes (sincronas ou assincronas), acadêmicas e corporativas.

No Censo da Associação Brasileira de Educação a Distância – EaD.br de 2010 o número total de alunos cursando EaD em 2009 está distribuído da seguinte forma:

  • 901.274 alunos em instituições credenciadas
  • 1.441.298 alunos em cursos livres
  • 254.785 alunos em cursos corporativos

Total de alunos: 2.597.357 que estudaram à distância

Muito importante destacar que estes dados correspondem à amostra dos respondentes do Censo e não ao Universo da amostra no Brasil, que provavelmente é muito maior do que a aqui apresentada.

Considerando o Censo EaD.br, que contabiliza todos os cursos à distância ofertados no país, mas não separa por tipo de curso, o cenário atual no Brasil é o seguinte:

  • 1764 cursos em instituições credenciadas (cursos de EJA, graduação, pós, extensão, profissionalizantes, dentre outros);
  • 468 cursos em instituições que ofertam cursos livres
  • 561 cursos/instituições que ofertam corporativos

Total de cursos ofertados: 2793 cursos

Os expressivos números mostram uma grande tendência do EAD  de se transformar, em breve, em um grande instrumento de capacitação e qualificação profissional,  em massa e que obedece aos três eixos da sustentabilidade que o mercado corporativo tanto persegue, levando em conta os aspectos sociais, ambientais e econômicos.

Se comparado com o método tradicional, nos três aspectos o EAD leva vantagem, sendo:

Ambiental – Mobilidade urbana – menos emissão de CO2, deslocamento, materiais indiretos, etc.

Social – Inclusivo – Garante que pessoas, com dificuldades de mobilidade, seja por distancia, seja por incapacidade, conseguem ter acesso a conteudos e informações necessárias para seu aperfeiçoamento.

Econômico – Accessível – Muito mais barato que o os cursos tradicionais. Muitas vezes pode ser ofertado dentro do ambiente de trabalho sem que o colaborador tenha que se deslocar ou se ausentar de seu posto.

É sob esta ótica que temos que enxergar a sustentabilidade. Se não equilibrarmos equitativamente fatores econômicos, ambientais e sociais internos e externos à organização, com certeza este desequilíbrio poderá ser danoso, ao longo do tempo.

Este equilíbrio deve ocorrer através do uso responsável dos recursos criando um ambiente de investimento compatível e estímulo para medidas éticas e de boas práticas empresariais.

Há tempos atrás, não se falava na tal sustentabilidade mas sim em evolução tecnológica, industrialização, entre outros fatores que privilegiavam apenas um ponto de vista dos três necessários para manter um ambiente equitativo ou sustentável: o ponto de vista econômico, em que se enxergava o crescimento e não a evolução das empresas e operações.

Para se mudar uma forma de pensar, para poder alterar a cultura de um povo, para se implantar novas metodologias, nova cultura, novos paradigmas é necessário empregar um processo chamado de EDUCAÇÃO.

Essa educação deve ser iniciada nos primeiros passos de um indivíduo na escola, já que a formação do caráter se dá até os oito anos mas deve ser também continuada por toda a vida, principalmente após o início da vida profissional. É neste momento que se concebe o desempenho e cultura deste individuo e sua relação com o ambiente empresarial. É através de suas atitudes que ele poderá mudar diretamente a vida de muitas pessoas que interdependem da mesma organização.

Conforme mencionado, anteriormente, hoje o grande vilão da não capacitação e conscientização de profissionais dentro das organizações é a falta do tempo e os altos custos de capacitação dos colaboradores.

Temos ainda a impossibilidade de massificação desta conscientização devido à extensão territorial e capilaridade de tipos de negócio e organizações que o Brasil possui.

Se por um lado, nas grandes metrópoles, temos a falta de tempo, custo e dificuldade de mobilidade, nos locais mais afastados, interioranos e ou ribeirinhos há falta de acesso a locais que possuam infraestrutura de capacitação de mão de obra, para poder levar até estes profissionais o nível de conscientização de sustentabilidade que o planeta precisa.

Mas, se um colaborador estuda em seu ambiente de trabalho ou em casa por meio da internet, televisão ou qualquer outra tecnologia, estará acessando muito mais facilmente o nível de informação sobre sustentabilidade, necessária para sua formação e transformando esta informação em ação, em prol da sustentabilidade.

É com esta roupagem, buscando se encaixar tanto no mercado corporativo como no mercado de formação individual, que o EAD se modela e se torna flexível, podendo atingir desde um individuo até um grande grupo de pessoas, podendo ser um curso de formação regular ou um curso de formação corporativa.

Por isso, algumas mudanças sensíveis começam a surgir no método tradicional de educação. Caminhamos para uma aproximação veloz entre os cursos presenciais (cada vez mais semi-presenciais) e os à distância.

Os presenciais passam a ter disciplinas parcialmente à distância e outras totalmente à distância. E os mesmos professores que estão no presencial-virtual começam a atuar também na educação à distância.

Teremos inúmeras possibilidades de aprendizagem que combinarão o melhor do presencial (quando possível) com as facilidades do virtual.

Isto torna claro cada vez mais a forte tendência de substituirmos a palavra conteúdo, por informação.

Não é raro hoje em dia falarmos sobre TIC – Tecnologia, Informação e Comunicação, aplicada à educação.

A TIC é cada vez mais utilizada pois a sociedade hoje se estrutura em redes, redes sem fronteiras, que estão totalmente alicerçadas em redes sociais e de relacionamento através da WEB, a grande rede de comunicação, via internet.

Existem estudos que mostram que a tendência da educação se baseará em participação em projetos organizados, em torno de problemas que levem os alunos a “descobertas” de novos conhecimentos.

O mundo corporativo busca cada vez mais capacitar profissionais para identificar problemas, achar e filtrar informações, tomar decisões e comunicar, com eficácia e a compreensão profunda de certos domínios de conhecimento, estudados.

Diante do cenário de agilidade exigido pelo mercado profissional e corporativo, a convergência tecnológica e de mídias como a televisão – tv interativa – Internet multimídia – de banda larga – celulares de terceira geração, acesso wireless (sem fio) se tornam cada vez mais, demanda e cenário.

O que está claro é que a educação através de novas mídias conectadas é uma realidade, cada vez mais presente e evolui de forma irreversível. Nada será como antes, em qualquer nível de ensino.

  1. Desenvolvimento

Para falarmos em Tendências em EAD e as relacionadas à questão da Sustentabilidade e Responsabilidade Social será  necessário alinhar o entendimento de seu autor com esse tema, uma vez que existem diferentes definições para o mesmo.

Após 05/02/2007, Com a divulgação do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), elaborado por 600 cientistas de 113 países, o tema Responsabilidade Social Empresarial tem sido muito comentado, mas pouco conhecido.

Estabelecido em 1998 pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o IPCC avalia de forma direta a informação científica, técnica e socioeconômica relevante para entender os riscos da mudança climática, causada por ações humanas, seus potenciais impactos e opções para a adaptação e mitigação.

Ao observar os últimos cinco anos de convivência com o tema “Responsabilidade Social Empresarial,” confesso: ainda teremos que trabalhar muito para a sua disseminação, tanto a nível empresarial como individual, uma vez que responsabilidade social começa em casa, com a mudança de nossas atitudes. Como consumidores, devemos ter em mente que não existe um ato de consumo sem impacto.

De uma maneira bem simples, podemos dizer que ser socialmente responsável significa nos preocuparmos, efetivamente, com os impactos que as atividades econômicas trarão ao nosso entorno.

Esses impactos podem ser positivos e negativos e estarem relacionados a questões sociais, econômicas, ambientais e culturais. Já o entorno significa os públicos, “stakeholders”,com os quais nos relacionamos:

Fornecedores de:

– Capital: acionistas, investidores e financiadores;

– Direcionamento: conselheiros, gestores, organizações parceiras, instituições (leis, normas, certificações, códigos, políticas públicas, boas práticas de mercado e de relações com a comunidade);

– Trabalho qualificado e não-qualificado: trabalhadores;

– Bens e serviços;

– Insumos e subprodutos.

Clientes e consumidores influenciadores:

– Indivíduos, grupos organizados, comunidades do entorno, ativistas e grupos hostis;

– Organizações representativas, políticas, filantrópicas e comunitárias;

– Movimentos sociais, ambientalistas, políticos e culturais;

– Ministério Público e Órgãos de Governo e Instituições do Mercado e Concorrência.

Basicamente esse é o conceito de Responsabilidade Social Empresarial. Entretanto, muita confusão tem sido feita com o assistencialismo e a filantropia.

Não é possível exercer Responsabilidade Social Empresarial isoladamente. Precisamos trabalhar, via engajamento e convencimento, com esses diversos públicos, para que possamos obter a legitimidade desse processo, respeitando as identidades, os princípios e os valores desses diversos atores.

A gestão “com” e não “de” esses públicos é fundamental para o sucesso nesse processo. Ao trabalharmos com a mitigação dos impactos sociais, econômicos, ambientais e culturais de nossas atividades – via engajamento e convencimento dos diversos públicos com os quais nos relacionamos, (“partes relacionadas/stakeholders”), objetivando a participação no desenvolvimento no nosso País, chegaremos ao conceito de Sustentabilidade e Responsabilidade Social Empresarial.

Alguns benefícios que poderão ser contabilizados com essa mudança de atitude são valorização da marca, fortalecimento da reputação, melhoria do gerenciamento de risco, melhoria das condições de competitividade e maior valor agregado para a sociedade. Essa ação se viabiliza via condutas de indivíduos, grupos, organizações e redes.

Com base nesse entendimento, podemos listar uma série de atitudes muito alinhadas com a Sustentabilidade e Responsabilidade Social e que são encontradas, facilmente nos Ensinos à Distância, hoje disponibilizados no mercado brasileiro e internacional, a saber:

  • Possibilita a inclusão em todas as formas de educação formal e informal as pessoas (normalmente 10% da população em qualquer país) incapacitadas por deficiências físicas e mentais, de freqüentar instituições convencionais de aprendizagem;
  • Contribui para a redução das emissões de CO2 na atmosfera;
  • Contribui para a redução dos congestionamentos nas grandes capitais;
  • Propicia a obtenção de  novos conhecimentos e habilidades por pessoas que moram em lugares isolados, afastados dos locais onde é possível obter novos conhecimentos e habilidades;
  • Permite que pessoas que, por força maior, não podem se deslocar (por exemplo, estarem presos em casa, precisando cuidar de crianças, pessoas enfermas ou de idade avançada), tenham acesso a esse tipo de ensino. (Dessa forma, em vez dessas pessoas “irem” até a escola, a escola vai até elas);
  • Beneficia pessoas que trabalham para seu sustento e não podem freqüentar aulas presenciais,  em horários tradicionais. Assim, fazendo um curso à distância, via internet, eles podem participar, assincronicamente, de todas as atividades com todos os outros inscritos no curso, nos dias e horários mais convenientes;
  • Permite que pessoas participem em cursos de graduação e pós-graduação, oferecidos por instituições de grande reputação acadêmica, sem sair de suas casas;
  • Traz flexibilidade de horário e de local permitindo que o aluno estabeleca o seu ritmo de estudo;
  • Possui valor do curso muito menor que do ensino presencial;
  • Disponibiliza muitas opções de cursos – maior diversidade de oferta;
  • Democratiza o acesso à educação: atende a um público maior e mais variado que os cursos presenciais;
  • Disponibiliza qualidade na metodologia educacional utilizada e no material;
  • Incentiva a educação permanente;
  • Estimula familiarização com as mais diversas tecnologias e
  • Permite que diferentes realidades socioeconômicas tenham acesso a conteúdos educacionais na internet, em sites de instituições de ensino.

O modelo concretiza a democratização da educação, cujos conteúdos podem ser remixados, adaptados às realidades locais, transformados e compartilhados.

  • Conclusão

Face ao acima exposto, consigo ver as tendências em EAD muito alinhadas às questões da Sustentabilidade e Responsabilidade Social que, hoje em dia, já começam a ser entendidas pelas empresas como cenário/demanda. Considerando esses conceitos, as práticas adotadas pelo EAD são um forte indício que esse tipo de ensino tende a ser muito procurado pelos empresários sensíveis, engajados e convencidos de  que esse é, sem dúvida alguma, o melhor caminho a seguir.

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