Por Beatriz Luz

O COVID-19 está nos mostrando o quanto somos interdependentes, conectados e também vulneráveis. O vírus não conhece fronteiras ­e não tem restrição de raça, religião ou poder.  Ele está nos mostrando que somos todos iguais perante a Deus e que não somos imortais.

É a primeira vez na nossa história que o mundo inteiro está tendo que enfrentar o mesmo problema, ao mesmo tempo. Uma solução descoberta pela manhã em Milão pode salvar vidas na Índia. Mas para isso acontecer precisamos de uma cultura de colaboração e confiança, como foi recentemente destacado por Yuval Hoah Harari no seu artigo do Financial Times que falava do mundo após o Coronavírus.

O Corona está, portanto, deixando bem a vista, as fragilidades do mundo atual. As nossas fraquezas como indivíduos, nosso sistema imunológico, a forma com que os países são governados, a qualidade do sistema de saúde, as desigualdades sociais e os níveis de confiança da sociedade. Todos dizem que precisamos de um novo mundo, uma nova economia e que o mundo não será mais como antes…

Mas o que seria este novo? De que adianta uma nova tecnologia se você não sabe como operá-la, não adianta ter o recurso se você não sabe escolher a melhor ferramenta e não adianta ter informações se você não sabe como usá-la.

Coronavírus, economia e mudanças climáticas está tudo conectado.

Precisamos ter um olhar sistêmico e pensar no todo. Não adianta ficarmos olhando para as consequências sem pensar nas causas. 

Em tempos de isolamento social para conter a transmissão do vírus, podemos também nos atentar para os impactos positivos desta pandemia. A reclusão social e a diminuição do tráfego nas ruas, e a parada das indústrias já resulta em menos emissões poluentes na atmosférica.

A China que teve o início da pandemia bem antes do Brasil, tem resultados surpreendentes na qualidade do ar e no ressurgimento de espécies animais desaparecidas até então. Na Itália os canais de Veneza ficaram limpos devido a redução de material em suspensão e o fluxo das gôndolas. No Brasil, não está sendo diferente. São Paulo já registrou uma boa qualidade do ar em vários pontos da cidade segundo a CETESB e no Rio de Janeiro o INEA destacou uma diminuição do nível de poluição do ar em 77%.

Além disso, nesta semana vários vídeos circularam mostrando a transparência das águas da Baia de Guanabara e a sua beleza marinha. Esta que foi altamente criticada durante os Jogos Olímpicos devido ao alto nível de poluição e lixo flutuante.

Portanto, está mais do que provado o impacto dos processos produtivos no meio ambiente, na nossa saúde e na poluição dos oceanos. Mas quem algum dia imaginou que estaríamos vivendo este momento de pausa quase total da produção para nos dar esta comprovação da correlação direta do impacto da indústria x poluição? O Coronavírus simplesmente acelerou uma discussão que estava a muitos anos sendo postergada.

Por outro lado, é a produção industrial que gera renda, emprego e subsistência para a sociedade. Como atingir este equilíbrio?

Precisamos repensar a produção, rever nossos valores e atitudes e redefinir produtos e serviços.

Estas são as bases da Economia Circular um novo modelo de crescimento macroeconômico que nos provoca a construir uma economia que cresce desconectada da exploração dos recursos naturais, com novas experiências, novas relações comerciais e um olhar de equilíbrio.

Portanto existe uma correlação direta entre o Coronavírus, a economia e as mudanças climáticas. Estão todos interligados e a discussão tem que ser com todos os elos da cadeia, todos os setores e países se unindo para o bem comum.

Sim, não sabemos o que fazer e teremos que aprender juntos. Fomos lançados para fora da nossa zona de conforto, portanto agora é a chance de repensar nossos modelos de negócio para um caminho circular e sustentável. E é esta a proposta do Hub de Economia Circular Brasil que visa reunir empresas em todos os elos da cadeia para trabalharem juntas quebrando barreiras e reinventando seus projetos produtivos de forma colaborativa.

Além disso, existe uma diferença importante entre a pandemia e a crise climática: não existe vacina para as mudanças climáticas e quando atingirmos o pico do aquecimento global, não teremos mais como retroceder.

Economia Circular no centro do pacote de restauração financeira da Europa.

Sendo assim, diante do risco na busca por soluções de curto prazo, a França, Alemanha, Áustria, Dinamarca, Itália, Latvia, Luxemburgo, Holanda, Portugal, Espanha e Suécia já se reuniram para garantir que o pacote de governo chamado EU Green Deal, lançado durante a COP25 ano passado, seja mantido como parte integrante do pacote de restauração financeira da Europa pós-corona. Vários ministros já confirmaram que a Economia Circular deve continuar sendo prioridade número 1 para o crescimento da Europa e requisitos condicionais devem ser impostos a todas as indústrias que tiverem acesso ao pacote aos recursos.

A Economia Circular prega um crescimento baseado na criação de valor para todos os elos da cadeia. Um novo mindset de negócios onde o produto pode virar serviço e o consumidor usuário. Uma economia baseada em produtos mais duráveis, re-uso, remanufatura e por último a reciclagem, pois assim construímos um modelo de crescimento regenerativo e sem a geração de resíduos. Um modelo mais colaborativo e menos exploratório. O seu fornecedor deve virar co-criador de soluções e novas relações comerciais devem ser construídas ao longo da cadeia de valor. Uma economia onde o diferencial competitivo não é mais baseado apenas no preço e na qualidade e sim na geração de valor. Uma economia que contribui para reduzir o aumento da temperatura global e reduz o impacto ao meio ambiente.

A colaboração é essencial

Diante da pandemia de Coronavírus, vemos emergir colaborações inusitadas como AMBEV e GERDAU que se uniram para construir novos leitos hospitalares em um tempo muito curto; empresas como Natura e Alpargatas estão mudando completamente os processos produtivos para produção de produtos de última necessidade para a sociedade e grande marcas estão transferindo recursos para sua cadeia de valor garantindo a sobrevivência dos pequenos, pois perceberam que não adianta somente eles sobreviverem isoladamente na cadeia.

Portanto, um novo modelo econômico é possível. As empresas podem se unir para trabalharem para o bem comum em um novo equilíbrio econômico. Estamos vivendo não só uma crise de saúde, mas uma revolução de valores e atitudes. E não devemos deixar que todos as vidas perdidas sejam em vão. Agora é o momento da transição.

Beatriz Luz: Engenheira Química com 10 anos de experiência internacional. Especialista em sustentabilidade estratégica e economia circular. Através de sua consultoria Exchange4Change Brasil auxilia empresas a repensarem seus produtos/serviços, avaliar novos modelos de negócio e ganhar diferencial competitivo com o mind set circular. Idealizadora do Hub de Economia Circular Brasil, ecossistema pioneiro que visa reunir todos os elos da cadeia para trabalharem juntos na troca de conhecimento e no ganho de escala para viabilização de projetos circulares.

Ref: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-51699211

Ref: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-03/com-isolamento-cai-poluicao-do-ar-em-sao-paulo

Ref: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2020-04/qualidade-do-ar-melhora-com-isoamento-social-no-rio

Ref: https://www.euractiv.com/section/energy-environment/news/france-germany-join-group-of-10-eu-countries-calling-for-green-recovery/


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