Medidas de combate às mudanças climáticas se revertem em mais qualidade de vida e saúde das populações

Por: Andreia Banhe, Gerente de Cidades, Estados e Regiões do CDP América Latina e Juliana Lopes, Fundadora da PulsarCom

Apontado como a maior oportunidade do século XXI¹ , o debate em torno da relação entre mudanças climáticas e saúde permite mostrar como a vida de todos é impactada pelo fenômeno da crise climática.

Cada real investido em políticas de redução de gases causadores do efeito estufa gera benefícios diretos para a saúde.

Há muitos exemplos que revelam essa relação ganha-ganha, como mostram alguns estudos: o investimento em ônibus elétrico contribui para a redução da poluição do ar nas cidades²; o estímulo à mobilidade ativa ajuda a combater a obesidade; a produção agroflorestal proporciona alimentos sem a necessidade do uso de altas doses de agrotóxicos³ e, portanto, podendo ser mais saudáveis.

Andreia Banhe - Revista Fórum Brasil de Gestão Ambiental. FBGA

Tudo isso é bom para clima e para saúde

Portanto, uma resposta consistente ao desafio da crise climática representa uma série de oportunidades, incluindo a despoluição de cidades, desenvolvimento de dietas mais nutritivas, sistemas de monitoramento de emergências, promoção da segurança hídrica, energética e alimentar, infraestrutura verde nas cidades, entre outros.

Os benefícios das medidas de redução das emissões relacionados à saúde e à qualidade de vida encontram forte apoio da população quando conhecidos e comunicados adequadamente, sendo assim chaves no enfrentamento da crise climática.

Apesar das vantagens das políticas climáticas para a saúde e qualidade de vida da população, a maioria das cidades ainda não possui uma gestão de riscos associados ao aquecimento global.

Juliana-Lopes - Revista Fórum Brasil de Gestão Ambiental FBGA

É o revelam os dados do CDP, organização internacional que oferece a maior plataforma de divulgação ambiental do mundo. Das 184 cidades latino-americanas que reportaram ao CDP em 2018, menos de 25% possuem uma análise de vulnerabilidade.

Esse número é ainda menor para plano de adaptação, somente 15% divulgaram que possuem planos. A maioria das cidades que contam com planos de adaptação às mudanças climáticas são de países de alta renda, que possuem mais recursos humanos e financeiros para construir tais planos.

Há também uma forte conexão entre as agendas de saúde, mudanças climáticas e segurança alimentar. Segundo relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo 2018”, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a variabilidade do clima e os eventos climáticos extremos estão entre os principais fatores do recente aumento da fome no mundo.

O relatório conclui que as mudanças climáticas ameaçam as conquistas alcançadas no combate à fome e desnutrição nas últimas décadas. A situação de fome é pior nos países cujos sistemas agrícolas são extremamente sensíveis à variabilidade de precipitações e da temperatura e a secas graves e onde os meios de subsistência de uma elevada parcela da população dependem da agricultura, como é o caso do Brasil.

Também há um ponto de interconexão no que diz respeito ao modelo de escoamento da produção de alimentos. No Brasil, onde 70% da população já vive em grandes centros urbanos e 58% do transporte no país é feito por rodovias, temos como resultado altos níveis de poluição nas grandes cidades e um alto risco de crises alimentarias causadas por quebras de abastecimento.

O episódio da paralisação de caminhoneiros expôs a fragilidade de um modelo de produção, transporte e consumo fortemente dependente de combustíveis fósseis.

O Instituto Saúde e Sustentabilidade fez um levantamento sobre a qualidade do ar em relação aos poluentes de material particulado , durante os 12 dias de greve dos caminhoneiros entre maio e junho deste ano, em todas as unidades federativas brasileiras. Na região metropolitana de São Paulo os níveis de concentração de material particulado registraram queda de 72,8% a 43,5% durante os dias da paralisação.

Para lidar com esses riscos, a FAO recomenda acelerar a implementação de medidas para fortalecer a resiliência e a capacidade de adaptação dos sistemas de produção de alimentos, redução do risco de desastres e respostas humanitárias a emergências, além da melhora na nutrição e dietas mais saudáveis.

Diante disso, o estímulo à produção local de alimentos é uma das respostas para maior resiliência e redução da poluição causada por emissões associadas ao transporte de alimentos, conceito conhecido como “food miles”, a distância que os alimentos percorrem para chegar até o consumidor. Ao redor do mundo, é crescente o movimento pela valorização de alimentos produzidos localmente.

Na America Latina, esse movimento vem aumentando, um exemplo é a cidade de Quito no Equador, eles reportaram por meio da plataforma do CDP o projeto de agricultura urbana que incentiva a adoção de mais de 2500 hortas urbanas, esses alimentos são orgânicos, grande parte são consumidos localmente, contribuindo, portanto, com a redução dos poluentes advindos do transporte.

Sendo assim, o estímulo às diversas formas de produção e transporte mais sustentáveis é uma das maneiras de se combater a urgência climática.

As vantagens vão desde financeiras até promover parcerias entre setores: do desenvolvimento social à educação, da agricultura ao meio ambiente, economia e planejamento urbano, facilitar escolhas mais informadas além de proporcionar a redução da poluição e benefícios diretos para saúde e bem-estar das populações.

Referências

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