O Ecoturismo é altamente vulnerável às mudanças climáticas, basta olhar para sua definição e entender a dimensão da adversidade que está por vir.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (ONWTO), ecoturismo são todas as formas de turismo baseadas na natureza, nas quais a principal motivação dos turistas é a observação e apreciação da natureza, bem como as culturas tradicionais predominantes nas áreas naturais.
Geralmente, mas não exclusivamente, é organizado por operadores turísticos especializados para pequenos grupos. Os parceiros dos provedores de serviços nos destinos tendem a ser pequenas empresas de propriedade local e pequenas propriedade rurais.
Segundo ONWTO, o ecoturismo ainda:
- Minimiza os impactos negativos no ambiente natural e sociocultural.
- Apoia a manutenção de áreas naturais utilizadas como atrações
- Gera benefícios econômicos para comunidades, organizações e autoridades anfitriãs que administram áreas naturais com fins de conservação;
- Oferece oportunidades alternativas de emprego e renda para as comunidades locais;
- Aumenta a conscientização em relação à conservação de ativos naturais e culturais, tanto entre moradores como entre os turistas.
- Contém recursos educacionais e de interpretação.
As ameaças das mudanças climáticas para o setor são diversas, uma vez que o ecossistema natural do ecoturismo é diretamente afetado por tais mudanças, sejam por impactos diretos, de eventos extremos como seca, tempestade, grandes volumes de chuva, furacões, escassez de água, perda de biodiversidade e danos a ativos e atrações do destinos, como impactos indiretos que são gerados em consequência destes primeiros, como aumento dos custos com seguros, preocupações com segurança, etc.
A contínua degradação causada pela mudança do clima e a extinção do patrimônio natural e cultural afetarão negativamente o setor de ecoturismo, reduzindo a atratividade dos destinos e diminuindo as oportunidades para as comunidades locais, pois os recursos naturais e culturais são a base para a competitividade do segmento. E como consequência, impactos econômicos também serão sentidos pelo setor.
Segundo pesquisa elaborada pela consultoria britânica Oxford Economics, o turismo na sua esfera mais ampla representou em 2018 uma participação de US$ 8,8 trilhões ao PIB (Produto Interno Bruto) mundial (10,4%), uma alta de 3,9%, superior à expansão da economia global (3,2%) o que representa 319 milhões de empregos, tornando-se protagonista da abertura de 1 em cada 10 postos de trabalho. O crescimento do mercado de viagens ficou à frente de ramos como o de cuidados com a saúde (3,1%) e tecnologias da informação (1,7%), perdendo apenas para o de manufaturas (4%). Estima-se que 17% desse movimento econômico do turismo é proveniente dos setores relacionados ao ecoturismo em específico e o mesmo se desponta como um dos segmentos com mais oportunidade de expansão.
Hoje, os seis países com as maiores indústrias de turismo são também as seis maiores economias do mundo: Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, Reino Unido e França. E completam a lista das maiores indústrias de turismo do mundo México, Itália, Espanha e Brasil. Logo, quaisquer mudanças que inviabilizem a realização do turismo gerariam um impacto considerável na econômica regional e mundial.
Por outro lado, o turismo também é causador de tais mudanças, ao intervir diretamente na emissão de dióxido de carbono (CO2), o gás do efeito estufa que hoje atingiu níveis sem precedentes, segundo evidências científicas.
Os impactos ambientais do turismo, na sua esfera mais ampla, que contribuem para as emissões de gases de efeito estufa, podem ser observados a partir do consumo de energia, e o uso de combustíveis fósseis. As emissões de gases de efeito estufa associadas ao turismo geral foram estimadas em cerca de 4,9% das emissões globais, sendo. transporte, alojamento e atividades de lazer os que mais contribuem com emissões.
Embora o Acordo de Paris tenha gerado um novo impulso e haja muitos esforços em todos os níveis para encontrar soluções para mitigar impactos e se adaptar às mudanças nas condições ambientais, bem como para relatar cada vez mais atividades e impactos, o setor de turismo está carente de estudos, evidências e informações essenciais relacionadas ao impacto do setor no clima global.
Dentro desse cenário, o ecoturismo pode ser um importante agente no combate e na prevenção de tais mudanças climáticas. Tendo seu viés de sustentabilidade e educação, ele pode ser a ferramenta de conscientização das futuras gerações para o uso e preservação dos recursos naturais, proporcionando experiências que desenvolvam o surgimento de novos hábitos de seus turistas para utilização de matriz energética limpa, para o uso de práticas agrícolas sustentáveis, para a redução do consumo e do desperdício, entre outros.
Todos os setores têm a sua parcela de contribuição para as mudanças climáticas e nenhum está imune aos impactos dessas mudanças de maneira direta ou indiretamente. O ecoturismo está diante de um fenômeno que exige planificar estratégias de adaptação e mitigação que permitam desenvolver atividades turísticas em longo prazo com vistas ao enfrentamento da nova ordem climática. Vejo que o mais importante, independente do setor ou do segmento, é construir uma consciência dos efeitos das mudanças do clima e introduzir, no dia a dia, práticas de redução da emissão de carbono, assim como medidas e ações de mitigações, contribuindo para minimizar os impactos das mudanças e para manter a vida em harmonia em nosso planeta.
* OMT, PNUMA e OMM (2018). Mudança climática e turismo: respondendo aos desafios globais.
** custos HowMuch.net
Wilson Miguel
1º Palestrante especialista no desenvolvimento do turismo sustentável com 137 Palestras ministradas sobre os temas. É gestor de projetos de inovação do Grupo Eco & Eco.
Graduado em Marketing, Pós-Graduado em Gestão Ambiental (UNICAMP) também participou Programa de Certificação Turismo Sustentável PCTS e fez Especialização em Business Model Generation.
Empresário há 27 anos, atua ajudando gestores a ampliarem seus resultados com a implantação de projetos sustentáveis e inovadores principalmente no segmento turístico.
Com experiência de ter participado da Idea a realização de 157 projetos em 24 estados brasileiros, Wilson Miguel traz muitos cases práticos com uma linguagem simples e objetiva.