O Brasil e o resto do mundo assistem, estupefatos, aos incêndios e aos desmatamentos na Floresta Amazônica.

Por: Gilberto Natalini

Aquilo que estava minimamente controlado, de repente, por um incentivo, um conselho, uma dica, uma política governamental errada, tomou proporções de tragédia.

O aumento da devastação por meio da derrubada sistemática de árvores, ou por incêndios criminosos, foi enorme em 2019. A supressão da cobertura vegetal da Amazônia aumentou 15% entre agosto de 2018 e julho de 2019, na comparação com o mesmo período do ano anterior (dados do Sistema de Alerta de Desmatamento, do Imazon).

A área destruída chegou a 5.054 km², mais de três vezes o território da cidade de São Paulo. A fumaça e a chuva negra, aliás, já atingiram a metrópole de São Paulo. A maior parte do povo brasileiro e de países em todo o mundo reagiu em defesa da floresta, e o governo Bolsonaro ficou isolado na sua irresponsabilidade e em sua visão de “desenvolvimento”, de 200 anos atrás.

Como se já não bastasse essa agressão cruel à Floresta Amazônica, temos aqui, em nossa cidade, a maior do País, uma tragédia socioambiental gravíssima. Trata-se de uma gigantesca derrubada da Mata Atlântica remanescente no município de São Paulo, provocada por organizações criminosas.

Isso tem acontecido na Zona Sul, nas regiões de Parelheiros, Capela do Socorro e M’Boi Mirim, em áreas de produção de água para as represas Guarapiranga e Billings, que abastecem milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo.

Esses crimes ambientais também ocorrem na Zona Leste, nas regiões de São Mateus, Itaquera, São Miguel Paulista e Cidade Tiradentes, e na Zona Norte, nas matas lindeiras da Serra da Cantareira.

Dossiê que acabamos de produzir identificou 90 áreas desmatadas no município de São Paulo. Derrubando a Mata Atlântica, “empreendimentos” montam loteamentos clandestinos e põem à venda lotes irregulares, ao arrepio da lei.

A população mais pobre gasta suas parcas economias para comprar esses pequenos terrenos, sem documentos de origem. Tudo manipulado pelo crime organizado, à luz do dia, de forma truculenta e acintosa, nas barbas do poder público, inerte e omisso.

Pouco tem sido feito pela Prefeitura de São Paulo e pelo Governo do Estado para deter os gravíssimos crimes socioambientais. Nosso dossiê mediu 46 das 90 áreas de devastação que relatamos. Nelas, constatamos que já foram para o chão ou estão sendo derrubadas neste momento cerca de meio milhão de árvores.





O impacto disso se reflete nas mudanças do clima, no aumento da poluição, na diminuição da umidade do ar e, o mais grave, na redução da produção de água para a metrópole.

Já denunciamos. Solicitamos providências às autoridades responsáveis.

A devastação na maior cidade do Brasil, no entanto, continua. As consequências, obviamente, virão. Assim como nos indignamos, choramos e protestamos contra a derrubada da Floresta Amazônica, também precisamos barrar com a máxima urgência a devastação criminosa das nossas florestas paulistanas.

Gilberto Natalini é médico e ambientalista.

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