Por Rogério Menezes, Secretário Municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Campinas
Vivemos em 2020 uma crise sanitária, econômica, ambiental e ética, na qual a pandemia do novo Coronavírus – Covid 19 nos forçou a parar as nossas relações sociais e laborais e a repensar nossos valores e comportamentos enquanto seres humanos, para a nossa sobrevivência e como podemos garantir um mínimo de subsistência digna para as futuras gerações.
Se remontarmos a nossa história enquanto espécie humana, há cerca de 10.000 anos, o Homo sapiens iniciava seu processo de sedentarização na região compreendida entre os rios Eufrates, Tigre, Jordão e Nilo (o crescente fértil), quando, devido às riquezas de recursos, surgiram as primeiras civilizações e consequentemente a necessidade de prover alimentos para uma população crescente, momento em que teve consequência a domesticação de plantas e animais e o surgimento, respectivamente da agricultura e da pecuária. Foi então “inaugurada” a assunção das doenças infectocontagiosas que anteriormente circulavam entre os animais, as chamadas zoonoses (as mesmas enfermidades que contraímos e transmitimos até hoje). O homem que nascera no continente africano (100 a 300 mil anos) até então era uma espécie nômade que “vagava” em pequenos grupos em busca de alimentos e abrigo, (como os outros animais do planeta), situação que não favorecia a transmissão e disseminação de doenças infectocontagiosas.
Já na dita Baixa Idade Média (anos 1.000 até o Renascimento) com o crescimento das cidades, do intercâmbio tecnológico e comercial, outro episódio de aquisição de doenças pelo homem se deu, principalmente pelo processo de sinantropização de espécies animais (algumas espécies que se adaptaram a viver nas cidades junto ao homem devido aos impactos as suas populações de vida livre), o exemplo historicamente mais marcante foi o da peste negra (causado por uma bactéria inicialmente transmitida pelas pulgas dos ratos) que dizimou um terço da população da Europa entre os anos 1340 a 1350 DC. Nos dias de hoje muitas das zoonoses sobre as quais se preocupam os serviços de saúde são transmitidas a nossa espécie por estes animais (sinantrópicos).
Atualmente, num mundo globalizado, com um crescimento populacional sem precedentes na história da humanidade, assistimos a um outro momento, o das “doenças emergentes”. A emergência da AIDS na década de 1980 deixou a comunidade científica assustada, e enquanto se preparava para mitigar os danos à saúde, econômicos e sociais causados pela entidade mórbida, outras novas doenças foram surgindo como os filovírus da África, ebola, marburg (Oriundo de primatas, assim como a AIDS), logo na China em 2001 emergiu um novo Coronavírus o da Síndrome Aguda Respiratória (SARS – apesar de ter atingido 26 países não chegou ao Brasil), na Malásia um paramixovírus o Nipah, e na Austrália outro desta família o hendra. Não bastasse, no Oriente Médio emergiu o vírus da MERs (outro coronavírus) e agora o Novo Coronavírus (Covid 19) causador da Síndrome Aguda Respiratória 2 a SARs 2, que dispensa apresentações.
O que será que está acontecendo? Para responder precisamos entender em que circunstâncias estas emergências se deram. Sem exceção alguma todas ocorreram devido ao impacto do crescimento das populações humanas e consequentemente das cidades sobre as populações de animais silvestres, fazendo com que os microrganismos que normalmente circulavam nestas, ultrapassassem a barreira de espécie e se adaptassem a humana. Um exemplo bem estudado, é o do vírus causador da AIDS que a partir de populações de chimpanzés da República de Camarões e de macacos mangabey de Guiné Bissau, sobre impacto pelo crescimento humano, passaram para espécie humana.
Certamente o planeta está tentando “nos dizer” algo que não estamos tendo alcance para entender. Permito-me acreditar que a base de todo o problema reside na falta de sustentabilidade da existência de nossa espécie na Terra, que estamos passando todas as barreiras determinadas por todos os sistemas redundantes do planeta, para as quais nenhuma ciência poderá garantir a nossa existência enquanto espécie na face da Terra. Sendo práticos: o que fazemos então?
As respostas parecem estar em como pensamos as cidades, para quem elas são e como compatibilizá-las com a saúde dos seres vivos e do planeta.
Um exemplo a ser citado é o do “Programa RECONECTA-RMC” surgiu de uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Campinas constante do Plano Municipal do Verde de Campinas o qual objetiva estabelecer a mútua cooperação entre os 20 municípios que compõem a Região Metropolitana de Campinas (RMC), para ações de interesse recíproco no âmbito de recuperação e conservação in situ. O citado Programa, tem por objeto central a conexão dos fragmentos dos biomas naturais da região por corredores ecológicos dando fluidez à fauna e recolocando-a no seu habitat, facilitando trocas genéticas entre espécies vegetais e animais, compatibilizando, desta forma a existência humana, dos animais e dos biomas, e entendendo a importância destes, principalmente pelos serviços ecossistêmicos que prestam.
A solução dos danos causados pela nossa espécie ao planeta é desafiante, porém necessita ser enfrentada, e internalizada nas políticas públicas dos executivos federal, estaduais e principalmente nos municipais.
Insistimos que o problema é grave e importante, principalmente quando observamos que um simples vírus é capaz de parar o mundo, destruir a economia, e principalmente ceifar vidas.
Recado está dado: Caso o Homo sapiens queira continuar habitando a Terra teremos que aprender a integrar o planeta e não o destruir.
E como fazemos? Começamos pelo nosso modo de agir, produzir, consumir, circular, trabalhar, enfim, exercer todas as nossas relações nas Cidades, onde vivemos, onde se apresentam todos os problemas e as soluções que, no caso, devem ser criativas, inovadoras, de baixo custo e, o mais, importante, solidarizada entre cidades fronteiriças, localizadas nas mesmas bacias hidrográficas ou aéreas. Não há mais tempo para o individualismo, nem para o egoísmo. o Programa RECONECTA RMC mostra que as cidades planejando de forma integrada são mais fortes e resilientes!
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