Montadoras se adaptam para cumprir as futuras metas de emissões, seja lançando híbridos e elétricos no país, seja melhorando a eficiência do etanol, que representa uma alternativa mais limpa.
Por: Thais Villaca
O Brasil começa a sentir os efeitos da corrida da eletrificação na indústria automotiva mundial. No último ano pipocaram lançamentos de carros híbridos e elétricos no país, desde as versões mais primárias, nas quais o motor elétrico não traciona as rodas (os Mild Hybrids, ou Híbridos Leves), até modelos que rodam exclusivamente com eletricidade.
Mas será que estamos preparados para receber esses veículos por aqui?
Na Europa, as regras vão endurecer em 2021, quando o índice de emissão de CO2 chegará a 95 g/km — há um planejamento acirrado para que a indústria local se adapte.
Teremos regras similares no Brasil apenas em 2023, com a meta de 97 g/km. Ou seja, são dois anos a mais para deixar a casa em ordem. Por isso, fabricantes que não ofereciam produtos no segmento estão montando sua estratégia. A Volkswagen acaba de lançar o Golf GTE, seu primeiro híbrido no país. Até 2023 serão mais cinco novidades eletrificadas da alemã na América do Sul.
Segundo Pablo Di Si, presidente da Volkswagen para a América Latina, o GTE faz parte de um projeto-piloto nesse primeiro momento. “Estamos aprendendo também. Vamos escolher três ou quatro concessionárias e ir testando”, revela. A montadora trabalha ainda com parcerias para instalar pontos de recarga no Brasil já em 2020.
Os entraves para o desenvolvimento desse mercado são conhecidos, como infraestrutura deficiente, câmbio instável e falta de incentivos do governo para venda ou mesmo produção nacionais. Mas há outro ponto que ainda pode ser mais bem explorado: o uso do etanol.
É o que defende o Grupo Fiat-Chrysler no mercado brasileiro, estratégia endossada inclusive pela matriz da empresa. “O etanol tem um papel-chave no Brasil. A rede de distribuição já está pronta e o processo de produção é renovável, já que a cana-de-açúcar captura até 80% do CO2 da queima do combustível na fotossíntese”, afirma João Irineu Medeiros, diretor de assuntos regulatórios e compliance da FCA.
Hoje, a divisão de abastecimento de veículos leves é de 30% com etanol e 70% com gasolina, então ainda há espaço a ser explorado. O alto preço da bateria também diminui a competitividade, já que 60% dos carros novos vendidos no Brasil são de entrada.
Isso ocorre, mais uma vez, por problemas político-econômicos. Apesar de o Brasil ser um grande produtor de etanol, o litro do combustível na bomba de gasolina inviabiliza sua vantagem econômica na maioria dos estados.
Como o rendimento térmico do etanol é inferior ao da gasolina, o consumo é maior – cerca de 30% a mais. Logo, se o litro do álcool é superior a 70% do valor da gasolina, os consumidores acabam optando pelo combustível fóssil.
Por apostar no biocombustível, a Fiat desenvolve um motor turbo com injeção direta de etanol, ainda sem data definida para lançamento.
“Não somos contra a eletrificação no Brasil. Achamos que ela vai chegar, mas não agora, e sim quando a tecnologia for mais barata e eficiente.”
A Ford foi pioneira nesse segmento ao trazer o Fusion Hybrid ao país, em 2010. Nesses nove anos, a montadora comercializou quase 2 mil sedãs híbridos no Brasil.
“Temos um histórico bacana para entender esse mercado, que começou muito tímido. Identificamos dois tipos de consumidores, aquele executivo que trabalha em uma empresa sustentável e quer passar uma mensagem para a sociedade e os que querem um carro diferente e adoram tecnologia”.
diz Mauricio Greco, diretor de marketing da Ford.
Globalmente, a Ford investirá US$ 11 bilhões para ter 16 novos carros elétricos até 2022. E com
a saída do Fusion do mercado no ano que vem, a montadora se blinda ao falar sobre os planos para o país, sem abrir ao menos as perspectivas de lançamentos para os próximos anos.
“A eletrificação é um caminho sem volta, mas não é um caminho excludente.”
despista Greco.
Por ora, um dos híbridos esperados por aqui é o crossover Escape, que deve chegar em 2020. As versões eletrificadas do Territory foram descartadas pelo presidente da empresa na América do Sul, Lyle Watters.